Entrevista à Rádio CBN Vitória
Como o paciente deve se preparar para a anestesia?
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Dr Diógenes Silva, médico anestesiologista da Anestech / Anestex, Florianópolis, SC fala sobre anestesia e tecnologia aplicada à medicina.
Como o paciente deve se preparar para a anestesia?
É fundamental que o paciente e sua família conheçam o anestesiologista com antecedência. Hoje, o médico anestesiologista já começa a ter o seu próprio consultório, onde é realizada a consulta pré-anestésica. O importante é que o paciente conte toda a sua história ao anestesiologista: seus hábitos, problemas de saúde, remédios que toma ou tomou, reações alérgicas a medicamentos e experiências anteriores com o uso de anestésicos.
O paciente não deve deixar de perguntar quais são os exames de laboratório necessários, horário de internação e se é necessário jejum, lembrando que a água está incluída no jejum. O paciente deve pedir esclarecimento e orientação sobre o tipo de anestesia a que será submetido. Isso lhe dará mais segurança e tranqüilidade. Deve ainda informar ao médico anestesiologista se tem, ou já teve, doenças como asma, diabetes, hipertensão, insuficiência cardíaca ou infarto do miocárdio.
Antes da anestesia o paciente deve suspender os medicamentos que costuma tomar?
Raros são os medicamentos que precisam, temporariamente, ser suspensos, antes da cirurgia. Quem decide isso é o médico anestesiologista. Se o paciente usa alguma droga ilegal, como cocaína, crack, maconha, faz uso de estimulantes ou anabolizantes, ou ainda é portador de doença infectocontagiosa, ele não deve deixar de falar com o anestesiologista sobre isso. Como médico, ele tem obrigação legal de guardar segredo profissional, não só sobre esse assunto, como sobre qualquer outro. Quanto mais informações o paciente der, melhor. Com todas as informações sobre o paciente, juntos, o anestesiologista e o cirurgião, terão melhores condições de realizar seus trabalhos com sucesso.
Quais os tipos de anestesia existentes?
O paciente pode ser submetido à:
- Anestesia Local: uso de anestésico local, aplicado somente no local da cirurgia.
- Anestesia Regional: uso de anestésico local em área de abrangência maior em relação à região do corpo onde será realizada a cirurgia (ex.: raquianestesia para cirurgia de varizes ou anestesia peridural para prótese de mama).
- Anestesia Geral: o paciente fica inconsciente. Pode ser aplicada por via intramuscular (para sedação ou como complemento da anestesia), na veia (mantendo-se a administração dos medicamentos por cálculos matemáticos) ou por inalação (através da respiração, o anestésico é inalado e entra no organismo pelos pulmões).
O paciente pode escolher o tipo de anestesia?
O anestesista, após avaliar o paciente, apresentará as opções tecnicamente possíveis para a cirurgia em questão. Vantagens e desvantagens de cada alternativa deverão ser apresentadas, assim como possíveis complicações. Ao final da consulta, o anestesista e o paciente decidirão, conjuntamente, que tipo de anestesia será administrada, considerando-se, portanto, aspectos técnicos e a autonomia do paciente.
Todo procedimento cirúrgico necessita de anestesia?
Cirurgia significa o tratamento de doenças utilizando-se de processos operatórios manuais e instrumentais, estando implícito, portanto, maior ou menor agressão à integridade do corpo, o que, em pessoas normais, irá
determinar o desencadeamento do sintoma doloroso. Assim, a boa prática médica moderna impõe o emprego de algum método anestésico durante a realização de procedimentos cirúrgicos. O anestesista estará ao lado do paciente para proporcionar bem-estar, controlar a ansiedade e, se necessário, mantê-lo dormindo, controlando a consciência. Também auxiliará no controle da dor no pós-operatório, peça fundamental para o sucesso da cirurgia.
A anestesia não poderia ser feita pelo próprio cirurgião? É realmente necessário que o anestesiologista a faça?
Existem muitos procedimentos que dispensam o acompanhamento do anestesiologista, pois, por necessitarem de baixas doses de anestésicos locais, podem ser realizados pelo próprio cirurgião sem maiores riscos. Geralmente, são cirurgias mínimas, como a retirada de uma lesão na pele, por exemplo. De qualquer modo, ainda nestes mesmos procedimentos, pode vir a ser imprescindível a presença do anestesiologista, como em casos de crianças ou pacientes muito ansiosos. Mesmo que o procedimento seja simples, você tem o direito de solicitar a presença de uma médico anestesiologista ao seu lado.
É necessário passar por uma consulta com o anestesiologista antes de uma cirurgia?
Sim, qualquer paciente deve conhecer seu anestesiologista antes de submeter-se a uma cirurgia. O anestesiologista, para bem realizar o ato anestésico, deverá conhecer o estado de saúde do paciente, assim como os pontos importantes de sua história clínica atual e passada. Essa entrevista será mais bem realizada em uma consulta ambulatorial prévia à internação do paciente para a cirurgia programada, mas poderá ocorrer durante a internação, no momento da visita pré-anestésica, sempre obrigatória antes de qualquer anestesia.
Quando o paciente pode ficar acordado ou não durante a cirurgia?
Na anestesia local ou regional, o paciente pode ficar acordado ou não. Em cirurgias rápidas em pacientes calmos, não há necessidade de ficar inconsciente. Em cirurgias mais longas ou em pacientes mais nervosos, é
comum a utilização de sedação, ou seja, o paciente ficará dormindo durante a cirurgia. Na anestesia geral, o paciente estará inconsciente durante todo o procedimento.
Quanto tempo dura uma anestesia?
O tempo de duração de uma anestesia deverá ser proporcional ao tempo estimado para a intervenção cirúrgica. O anestesiologista poderá manter a anestesia por quanto tempo for necessário, sem interrupção.
Quais os principais riscos ao se submeter a uma anestesia?
A anestesia evoluiu muito nas três últimas décadas, de modo a permitir a realização de procedimentos cirúrgicos cada vez mais complexos. Ocorre, entretanto, que a anestesia se utiliza de medicamentos cada vez mais potentes, os quais, além de promoverem analgesia, inconsciência e relaxamento muscular, determinam outros efeitos, como por exemplo, a depressão da respiração e do ritmo cardíaco. Muitos destes efeitos são
previsíveis e podem, na grande maioria das vezes, ser contornados pelo anestesiologista. Outras reações, entretanto, não são tão previsíveis e podem trazer problemas inesperados e mais difíceis de serem resolvidos.
Felizmente, esses não são muito comuns. A questão do risco depende muito, também, do estado clínico do paciente, isto é, de doenças e fatores de risco que o paciente já possuía antes da realização da anestesia. É fundamental detalhar na consulta pré-anestésica todas as doenças e drogas em uso, pois isso facilitará o cuidado durante a cirurgia. Existem cirurgias, maiores e mais complexas, que também contribuem para
que o risco do ato anestésico-cirúrgico, como um todo, esteja aumentado.
Quais os principais efeitos colaterais de uma anestesia?
São diversos os tipos de anestésicos que são utilizados em um procedimento cirúrgico, conforme a situação que se apresenta, com suas peculiaridades e necessidades. Também são diversos os tipos de efeitos colaterais dos anestésicos, nem sempre observados durante e após uma anestesia. Os mais comuns, entretanto, são náuseas e vômitos. "Dor de cabeça" também é um sintoma possível. Podem também acontecer calafrios e tremores, conforme o tipo de anestesia.
Qual é a responsabilidade do anestesiologista antes, durante e após a cirurgia?
Pode-se dizer que o anestesiologista é o “guardião do paciente” durante o procedimento cirúrgico ou o exame a que ele será submetido. Suas responsabilidades, e as dos hospitais, estão detalhadamente descritas na Resolução nº 1802/06 do Conselho Federal de Medicina.
O anestesiologista:
- monitoriza as funções vitais, intervindo e corrigindo imediatamente quando necessário;
- atenua as ações dos processos orgânicos gerados pela cirurgia (que chamamos de “trauma cirúrgico”);
- hidrata e repõe perdas de líquidos ou sangue e derivados, quando necessários;
- previne e estabelece uma estratégia para o controle da dor pós-operatória;
- controla a exposição do paciente a características do ambiente cirúrgico, tais como frio ou calor excessivo.
Como é a volta do paciente à consciência e à sensibilidade após a anestesia?
O anestesiologista deve observar o paciente até que tenham encerrados os principais efeitos relacionados à anestesia administrada. Para isto, há um setor especial, onde a maioria dos pacientes permanece após a anestesia e a cirurgia - a Sala de Recuperação Pós-Anestésica (RPA) - ,onde o paciente será observado de maneira contínua.
Sala de recuperação é sinônimo de complicação?
Não. A Sala de Recuperação permite que o paciente tenha sua pressão arterial, freqüência cardíaca, respiração e nível de consciência observados em intervalos regulares, até que possa ter alta para o quarto ou
enfermaria em condições seguras e com a dor controlada. Alguns pacientes, considerados graves ou submetidos a grandes cirurgias, podem passar pela Sala de Recuperação ou serem encaminhados diretamente para os Centros de Tratamento Intensivo - CTI.
Fontes:
Sociedade Brasileira de Anestesiologia Cartilha “Anestesia Segura” www.sba.com.br
Sociedade de Anestesiologia do Estado do RJ - www.saerj.org.br
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